Livro 10: A trégua

O encontro aconteceu dia 23 de outubro com participação de Alex, Cássia, Cátia, Laís e Nina. A nossa discussão, editada, vem a seguir.

Alex: Em homenagem ao livro acho que hoje vou chamá-las pelo sobrenome… rs

Cássia: hahahahaha.

Nina: hahahha.

Cássia: Poxa, mas “Pires” não tem poesia nenhuma.

Laís: Vou adorar.

Cássia: Mas o seu sobrenome é bonito, né, bem.

Laís: Modéstia à parte, acho meu sobrenome lindo, rs.

Alex: D’Andrea é estiloso mesmo… rs

Nina: Laís, eu também gosto do seu, hehehe.

Laís: O Marcelino Freire diz que eu tenho nome de quem vai ganhar muito dinheiro escrevendo, hahahaha.

Cássia: Tomara, hehehe. Quem começa?

Alex: Hum, posso começar perguntando?

Laís: Claro.

Cássia: Pode-e-e-e.

Alex: Por que vocês acham que ele chamava a esposa de Isabel e a Laura de Avellaneda?

Cássia: Hmmmm, já pegou na jugular.

Alex: Tem relação com as circunstâncias em que conheceu elas ou com a época? rs

Cássia: Acho que com as circunstâncias.

Laís: Eu ia falar da circunstância.

Nina: Eu também acho.

[Cátia chegou]

Cássia: Eu acho, mas vamos falar disso mais pra frente

Laís: Eba!

Cátia: Mil perdões a todos!

Cássia: Imagina, fofa.

[Voltando à discussão]

Alex: Por que vocês acham que ela chamava a esposa da Isabel e a Laura de Avellaneda? Tem relação com as circunstâncias em que conheceu elas ou com a época?

Cássia: Pode chegar chegando, Cátia. Eu acho que com as circunstâncias. Apesar de estranhar que ele não tenha mudado isso depois.

Nina: É, eu também acho que com as circunstâncias (Oi, Cátiaaaaa).

Laís: Sim, também estranhei. Aliás, não parece, no relato dele, que o sentimento por ela fosse tão grande. Para mim alguma coisa estava estranha.

Alex: Pois é… por que não mudou? Será que ele se apaixonou pela Avellaneda e a Laura seria como se fosse uma pessoa diferente?

Cássia: Hmmm, não penso em sentimento com medida. Na verdade, a gente se apaixona pela ideia que tem na cabeça, né?

Laís: Não sei se pelo fato de ser um homem (não que homens não tenham sentimentos, mas eles verbalizam menos), ou pela idade, ou pela época.

Cássia: Talvez ele tenha se apaixonado pelo o que ela representava.

Alex: A trégua do título? rs

Cássia: Exatamente.

Nina: Eu também acho.

Cássia: Apesar de que… eu acho que ele gostava dela sim, mas se ligou depois.

Nina: Acho que ele gostava dela, mas o que ela representou na vida (sem graça?) dele foi muito maior.

Laís: Boa, Nina!

Alex: Era um amor mais aventuresco namorar minha subordinada bem mais nova do que uma mulher bem mais nova?

Cássia: Não, não… ele não saía de casa, só podia conhecer alguém no trabalho mesmo.

Nina: Não acho que tem muito a ver com o fato dela ser a subordinada não.

Laís: Acho que ela ser subordinada deu margem pro relacionamento.

Alex: Eu sei, mas não seria uma espécie de síndrome de Romeu e Julieta? Era mais gostoso esse amor confidencial.

Cássia: Ah, mas o amor confidencial tem seu charme desde que o mundo é mundo.

Nina: Hehehe.

Cássia: Senão ninguém se metia em roubada, hehehehe.

Nina: Kkkkkkkkkkk, boa!

Alex: Por isso, era mais gostos o amor proibido com a Avellaneda do que com a Laura…rs

Laís: Se deixasse de ser confidencial, na cabeça dele, traria mais problema do que solução.

Cássia: Mas ele a chama de Laura em algum momento? Eu não lembro.

Alex: Não.

Cátia: Não.

Laís: Não posso afirmar.

Alex: Quer dizer… só quando apresenta os novos subordinados da seção.

Cássia: Acho que havia um toque de impessoalidade nesse relacionamento.

Alex: E engraçado que os outros todos a chamavam de Laura.

Laís: Era iiiiisso que eu queria dizer quando falei sobre o sentimento dele, Cássia. Você se expressou melhor que eu, obrigada.

Alex: Quando ela faleceu… eles falaram: a Laura faleceu.

Cássia: Talvez chamá-la de Avellaneda foi um muro que ele mesmo se impôs. Ah, Laís, agora entendi…

Laís: E eu fiquei o livro inteiro sem entender qual era a dela.

Cássia: A impressão que tive é que ela se abriu mais e tal, e ele continuava na zona de conforto.

Laís: Não sei se ela gostava dele, sei lá. Não acho que ela se abriu tanto não.

Alex: O Avellaneda seria uma margem de distância de segurança, já que ele estava bem inseguro sobre a diferença de idade.

Cássia: É, ele morria de medo de ser traído, trocado, deixado para trás.

Nina: Cátia?

Alex: Eu achei que ela estava sendo simplesmente uma garota de 24 anos

Cátia: Estou a ler as vossas opiniões…

Cássia: Eu acho que estamos tão acostumados a ler amores avassaladores que quando aparece um casal que só se dá bem, obrigada, não gera tamanha comoção.

Laís: Tem razão. Isso é interessante nesse livro.

Alex: Ao contrário, eu achei bem mais interessante porque é mais crível.

Cássia: Sim, eu achei interessante, mas não achei comovente…

Laís: Na vida do protagonista, avassalador foi o que houve entre ele e a Isabel. Viveu tudo o que tinha de viver naquela intensidade com ela.

Alex: Amores avassaladores só se encaixam em relacionamentos adolescentes com vampiros que brilham no sol… rs

Nina: Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

Cássia: Você não participou do nosso ano Jane Austen.

Nina: Nem é, Alex.

Cássia: Dobre a língua para falar desses amores, hehehehe.

Cátia: lol

Laís: Não seja radical, vai, Alex.

Cássia: Olha o Alex causando revolta na mulherada. Se até a Laís tá falando isso, hehehe.

Alex: Mas o “avassalador” em Jane Austen está numa escala diferente… algo como o impudico ato de uma anágua esvoaçante… rs.

Nina: Mas eu não sei… para mim a questão é a personalidade dele mesmo. Vocês lembram que tudo antes girava em torno da aposentadoria dele?

Cássia: Ixi, você não manja nada, Alex.

Cátia: Hein?

Nina: Oi?

Cássia: Ele vai tomar uma surra hoje.

Cátia: Então, o que seria avassalador?

Alex: É um avassalador mais comportado e maduro que fica ruborizado quando o chama assim.

Laís: Eita, Alex precisa ler as cartinhas apaixonadas nos livros da Jane para sentir o espírito da paixão daquela galera.

Cássia: Comportado? É que ela não mostrava depois do the end. Aquela galera arfaaaaaava.

Laís: E vocês acham que o amor do Florentino pela Fermina não era avassalador? Era, siiiiim…

Cássia: Opa. O dia em que Florentino deu um chega mais eu na Fermina não sobrou anágua sobre anágua.

Cátia: lol

Cássia: E seu Alex vem me falar de Crepúsculo, mas faça-me o favor, viu.

Alex: Acho que vocês estão confundindo avassalador com tesão enrustido… rs. O pessoal daquela época era uma panela de pressão, mas dizer que cometiam arroubos adolescentes…

Cátia: uhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Cássia: Eu não vou entrar no mérito, Alex, senão vou discutir com você.

Nina: Ih, eu acho que o Alex tá só querendo irritar a gente, hihihihi.

Cássia: E hoje eu não tô a fim. Mesmo.

Cátia: Acho que sim. Falando sério, eu quando era adolescente…

Laís: Todo mundo comete arroubos adolescentes na vida; e não precisa ser adolescente para cometer, basta estar míope.

Cátia: Teria adorado um Crepúsculo.

Alex: Não tô não, mas vamos voltar para o livro senão sai briga e não discutimos o que importa.

Cássia: Agora, achar que a gente cresce e fica amargo…

Cátia: Hoje, com a minha idade, é bobinho.

Cássia: amorfo, sinto muito. Morro adolescente.

Nina: Gente, e na boa… toda forma de amor é válida, não é?

Cátia: Certo.

Cássia: Mas do mal do Santomé eu não morro.

Cátia: Na adolescência vale tudo. Li muito Barbara Cartland e não me envergonho disso.

Laís: Como assim, Cássia?

Cássia: Como assim o quê, Laís?

Laís: Como assim, desse mal você não morre?

Cássia: Desse mal de uma vida amorfa, sem se emocionar com nada, sem grandeza de sentimento… Isso que estou falando. E grandeza de amor nada tem a ver com adolescência. NADA.

Alex: Bem, tentando relacionar os temas… a Avellaneda e o Santomé não tinham exatamente essa visão sobre o relacionamento? Ela era uma jovem de 24 anos e ele bem mais maduro e calejado.

Laís: Acho que essa vida amorfa só aconteceu porque ele perdeu a Isabel. Perdeu o encanto pelas coisas. Aí, não teve Avelaneda que desse jeito.

Cátia: Certo, Cássia.

Alex: Por isso ela era mais ousada e ele tão reticente quanto ao relacionamento e seus próprios sentimentos. Será? Eu acho que o sentimento dele pela Avellaneda foi maior do que pela Isabel. E por isso acho tão interessante chamar a primeira pelo sobrenome e a segunda pelo nome.

Cássia: Eu acho o contrário. Ele amava a Isabel.

Laís: Foi diferente. Ele compara as duas em vários momentos.

Cássia: Ele mesmo deixava isso claro e mostrava que com a Avellaneda ele tinha uma calmaria e tal, um conforto na vida. Por isso ela foi sua trégua.

Laís: Uma pessoa não substituiu a outra.

Alex: Bem… e essa não é a diferença entre paixão e amor?

Laís: Prova disso foi quando ele encontrou uma carta que a Isabel escreveu havia muito tempo…

Alex: Paixão é tempestade e amor não é calmaria?

Laís: Ele sentiu o impacto.

Cássia: Amor é calmaria, mas não é somente amizade e há pessoas que confundem isso.

Alex: Bem, mas fiquei com a impressão de que se a Isabel estivesse viva ele estaria na mesmice em que começou a história.

Cássia: Não sei se estaria… ele sofria de solidão, os filhos não se importavam com ele, o trabalho era burocrático.

Alex: Fiquei com a nítida impressão de que seu sentimento por ela só perdurou porque não houve tempo do fogo esvanecer lentamente.

Laís: Ele mesmo questiona isso. Não saberia dizer nem se os dois estariam juntos ainda. Pode ser, Alex.

Cássia: Gente, mas é o questionamento normal, especialmente depois do surgimento da Avellaneda.

Alex: Acho que é sintomático o fato dele ter dificuldade de se lembrar do rosto dela.

Cássia: Eu não fiquei com essa impressão… Ah, mas isso acontece com qualquer pessoa. Quando outro alguém some da sua vida, a imagem some mesmo.

Laís: Verdade.

Alex: Mas ele só a descreve em termos mais carnais… não é um sorriso que ele se lembra mais ternamente, mas do sexo.

Cássia: Não, não… ele se lembra sim de outros detalhes da Isabel.

Alex: Ele mesmo diz que não tinham muito em comum, mas na cama se entendiam muito bem.

Laís: Aquela carta que ele encontra e transcreve também é cheia de sexo. Não explicitamente, mas fica algo no ar.

Cássia: Gente, e qual o problema de ter sexo na história? Então ele ama a Avellaneda porque não fala disso e não ama a Isabel por conta disso?

Alex: Nenhum.

Cássia: Ué, mas parece, há um desmerecimento da Isabel por conta disso.

Alex: Ele a ama porque não fala SÓ disso.

Laís: Nenhum problema, só estou observando.

Cássia: O que difere um amigo de um namorado é justamente o quê?

Nina: Eu não sei, Alex. Estou com a impressão de que você o viu de uma maneira muito mais complicada do que ele realmente era.

Cássia: Também acho.

Alex: Bem… eu sou homem e consigo me identificar com ele… rs.

Nina: Para mim, ele era um cara solitário, aborrecido, entediado e mais nada.

Cássia: Mas somos mulheres e podemos entender o lado dele. Acho que ele estava em momentos bem diferentes da vida.

Nina: Tipo, um cara que a única preocupação era o dia da aposentadoria.

Cássia: E na época da Isabel…

Alex: Achei que ficou muito bem retratado como um homem lida com um relacionamento quando se é jovem e mais maduro… rs.

Cássia: tinha a vida pela frente, parece que o mundo era dele. Ah, se ser mais maduro é ser assim, na boa… Quando ele conheceu a Avellaneda, ele realmente achava que era o fim da sua vida. E, detalhe, aos 50 anos de idade. Tudo bem que na década de 1960, a visão era outra, mas para ele, não havia o horizonte.

Nina: Isso.

Alex: Bem, 50 anos em 1959… rs. Mas ele era bem deprimente mesmo… rs.

Cássia: Por isso ele não viu futuro com a Avellaneda. Se ele não tem futuro, como dar isso a ela?

Nina: Agora… não consigo ver essa complicação toda em cima dele não. Exatamente.

Cássia: Ele é mais simples do que se imagina.

Alex: Acho que a grande questão era: devo me entregar para esse amor se daqui a pouco ela pode se cansar de mim? Ela é jovem e eu logo serei um velho que não poderá acompanhá-la.

Laís: Bom, ele era um solitário crônico, talvez pelo fato de ter perdido a Isabel, como já falei. Mas teve sentimentos pelas duas, não sei se mais por uma ou por outra, mas diferentes. Porque foram diferentes momentos da vida dele, cronológica e existencialmente. Minha opinião se resume assim.

Nina: Concordo.

Laís: Ele tinha uma autoimagem irritante.

Nina: E quem garante que a Avellaneda não estava com ele só para passar o tempo ou para tirar onda de que estava pegando o chefe? Kkkkkkkkkkkk.

Cátia: Concordo, Laís.

Cássia: Tadinha, hehehe.

Alex: Opa… agora você entrou na mente dele… rs.

Cássia: Eu acho que ela gostava dele…

Laís: Também acho que gostava.

Cássia: E foi gostando mais a cada dia.

Laís: Mas era meio enigmática, sim.

Nina: Eu também acho, gente! Estava brincando.

Cássia: Eu sei, Nina, hehehe.

Nina: Mas ela era meio confusa também.

Cássia: Ah, mas dá para entender a confusão. Seu chefe vem, se declara para você, depois você tem um apartamento com ele, ele não te assume, não te mostra nada além.

Alex: Não achei que ela fosse confusa… ela estava agindo como uma jovem de 24 anos.

Cássia: É complicado quando se tem 24 anos.

Alex: Que certeza alguém pode ter nessa idade… Bem, ou em qualquer outra, rs.

Cássia: Certeza nós nunca temos.

Laís: Quanto mais o tempo passa, menos delas eu tenho.

Alex: Mas com o tempo ficamos menos impulsivos.

Cássia: Mas a pessoa quer um futuro, algo que venha depois.

Nina: Pois é!

Cássia: É, mas também não dá para pensar demais, senão a pessoa fica pensando pensando pensando… Ele tanto pensou, que ela morreu e sem saber que ele queria casar com ela.

Alex: Nossa… foram meses apenas.

Laís: Pois é.

Alex: Não exagera… rs.

Cássia: E daí que foram meses? Não estou exagerando. Precisa esperar anos?

Alex: Vocês realmente acham que um relacionamento para dar o passo adiante não precisa de um pouco mais de maturação?

Cássia: Isso é tão relativo… Hoje, eu acho que não precisa não. A gente saca a coisa.

Alex: Não anos… mas vocês o estão condenando por não ter decidido em alguns meses.

Cássia: Não estou condenando, mas ele tratou a Avellaneda como amante.

Laís: Ele tinha inseguranças demais.

Nina: E o que mais ele tinha pra fazer? Ele não se arriscou.

Laís: Mas não foi por maldade.

Cássia: Claro, sei que não foi por maldade.

Nina: Também acho que não, mas ele não se arriscou.

Cássia: Ele tinha mesmo o jeito de quem não se arriscaria.

Alex: Acho que esse ponto do relacionamento foi de comum acordo… ambos tinham questões quanto a divulgar esse relacionamento.

Cássia: Ah, contasse logo.

Laís: Ele se arriscou sim, do jeito dele.

Cássia: Dane-se o que o vizinho vai achar.

Alex: Acho que foi o que mais se arriscou.

Laís: Contar para os filhos, na cabeça dele, foi um grande passo.

Cássia: E a filha adoraaaaaava a Avellaneda.

Cátia: É verdade, Laís.

Alex: O que é diferente de quem mais investiu no relacionamento, pois daí foi ela.

Nina: O Jaime descobriu, não foi ele.

Cássia: Ela investiu mesmo. Calma, Nina, não entendi.

Alex: Estamos falando de 1959 e, espero que não tomem mal o que vou escrever, mas ela entregou sua virgindade.

Nina: Ele não contou para os filhos. O Jaime descobriu… Aí ele contou para a Blanca e para o outro lá (esqueci o nome). Não foi se arriscar, nesse sentido.

Cássia: Entregou sua virgindade, ai senhor… Não é presente! Hehehe.

Nina: Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

Alex: Para um homem bem mais velho e que não assumiu publicamente o relacionamento e não prometeu fazer isso algum dia.

Cássia: É, pelo ano, isso era sim uma grande questão.

Alex: Bem, eu não sei como poderia me referir ao tema, por isso optei pela expressão anterior… rs.

Cássia: É, Nina, tem razão… Se não tivessem descoberto, ele não teria contado.

Cátia: Nina, mas quando ele contou para o Esteban ele pensou que ele não sabia.

Laís: Sim, tudo bem que um filho descobriu e que o outro já sabia, mas ele não tinha conhecimento disso.

Cássia: Importante eram os filhos. Depois que eles souberam, a questão era a família dela

e a mãe já sabia.

Laís: Bobinho ele.

Cássia: Quem é bobinho?

Laís: Ele pensou que podia controlar a informação, mas que nada.

Nina: Gente, para mim, ele não pretendia contar para ninguém. Não por maldade.

Cátia: A sério, Nina?

Alex: O Santomé porque o pai da Avellaneda é bobão mesmo.

Nina: Mas ele gostava daquilo.

Cássia: Sabe o que parece?

Cátia: Eu acho que ele iria contar.

Laís: Tô falando do Santomé.

Cássia: A Avellaneda era o seu segredo.

Nina: Isso, para mim era isso

Cássia: Sabe quando a gente esconde algo megaprecioso? Era tipo isso.

Alex: Acho que talvez o graça da coisa era manter em segredo.

Laís: Acho que ele ia contar, mas precisava de tempo. Muuuuuito mais tempo do que tinha.

Cássia: “Ó, minha vida é patética e vocês nem sabem o que tá guardado no apartamentinho.”

Nina: A vida era mais excitante daquele jeito, sei lá! Era como se nada nem ninguém pudesse interferir naquilo ali.

Laís: Não poderia saber que não tinha, claro.

Cássia: É, tem isso… Não contar também implica em ninguém se meter.

Alex: Bem, ele não sabia que não tinha tempo.

Cássia: E ninguém se meter diminui as chances da coisa azedar.

Nina: Isso.

Alex: Ela morreu repentinamente.

Cássia: Aí que tá: a morte dela. Pensemos: você tem um relacionamento e não dá uma ligadinha para a pessoa? Mesmo estando de cama?

Nina: Nossa, achei uó!

Cássia: Eu ia ligar. Mesmo sem voz quase, ia falar “Fulano, tô morrendo!”.

Cátia: Outros tempos, Cássia.

Laís: Por isso que eu disse que ela parecia enigmática para mim.

Alex: Aqui eu vou dizer uma coisa: foi ridículo o autor não querer compartilhar o que ela disse no leito de morte sobre Santomé… porque aquilo foi uma opção “estética” do escritor  e não do personagem.

Cássia: Mas, Cátia, por que isso tem a ver com o tempo? Ela estava morrendo.

Cátia: Mas ele não sabia.

Cássia: É, também achei, Alex. Mas não digo ele.

Cátia: Sabia apenas que estava doente, uma gripe.

Cássia: Digo ela, ela poderia ter ligado. Mas ela foi piorando. Sério, ninguém aqui ligaria? Mais de uma semana de cama?

Laís: Pois é, Alex, aquela morte foi reticente; nada convincente aquilo, deu a impressão de que o autor queria acabar o livro logo

Cássia: É, a morte dela foi estranha. A situação toda foi estranha.

Alex: Caramba, várias vezes o personagem escreveu que aquele era um diário pessoal e que ninguém ia ler, então por que diabos diz que não vai escrever para não compartilhar aquilo e ficar só para ele?

Cássia: Eu faço diários desde os 12 anos. Ó, são 20 anos. E tem coisa que não escrevo no diário.

Cátia: Eu acho normal para a época, um homem mais velho a ligar para a casa de uma jovem…

Alex: Acho que o escritor não tinha ideia do que poderia escrever como a última mensagem dela para o personagem.

Cássia: Não quis parece piegas.

Cátia: eu acho que ele não pensou que tivesse gravidade.

Cássia: Sim, Cátia, eu entendi ele não ligar.

Nina: Cátia, estávamos falando da Avellaneda ligar para dar um oi.

Cássia: A minha questão foi ela não ligar para ele.

Nina: Estou morrendo e tals.

Cátia: E é nesse vácuo que ele constata o sentimento.

Cássia: É, o grande clichê do “percebi que te amo quando você não estava aqui”.

Cátia: Sim, mas a questão é que nós lemos somente o ponto de vista dele.

Cássia: Sim, sim, Cátia. Mas o nosso questionamento é sobre o comportamento dela mesmo.

Nina: Isso.

Cássia: Eu acho estranho, ainda mais que a mãe sabia.

Laís: Eu acho estranho desde o início.

Cássia: Nem um bilhetinho no trabalho.

Nina: Sei lá, bando de gente estranha!

Cátia: Há tantas coisas neste livro que não tem uma explicação.

Cássia: “seu Santomé, carta da avellaneda”. Se fosse hoje, ela mandaria SMS, hehehe.

Laís: Acho que ela só entrou nesse relacionamento porque não tava fazendo nada e porque tinha que esquecer o ex.

Alex: Seria menos estranho do que a reação dele quando foi informado no escritório.

Cátia: A Avelleneda saiu como entrou.

Cássia: Laís, bem lembrado, o ex.

Nina: Eu também acho.

Alex: Que chefe entra em colapso porque soube que um funcionário faleceu? Como os outros funcionários aceitaram essa conclusão? rs

Cátia: Quase como uma aparição.

Cássia: É, ela entrou sem alarde e saiu sem dar tchau.

Cátia: Se a filha dele não tivesse conhecido ela eu pensaria que ela seria uma aparição

Laís: Adoro ter nascido numa época em que posso usar SMS, rs.

Cássia: Hahaha, boa, Cátia.

Nina: Kkkkkkkkk.

Cátia: A sério.

Cássia: Ah, Laís, eu também gosto… mas ainda sou fã de carta.

Alex: Nossa, o diário perdido da Avellaneda teria o seguinte então: hoje meu amado ex quis retornar para mim, mas como me livrar do passatempo? Acho melhor pedirem para ligar no serviço e dizer que morri.

Cássia: Hauauhahua, tadinha. Eu acho assim: ela começou com o Santomé porque ele gostava dela, daí o sentimento por ele surgiu.

Nina: Acho que os funcionários não aceitaram, Alex. Mas como o diário era dele, não tinha como ele saber o que a galera falava dele pelas costas.

Alex: E daí teria uma entrada diferente no dia que ele foi visitar a casa dela: nossa fiquei escondida vendo ele se lamuriar… sorte que a mamãe se livrou dele e o papai acreditou que era meu chefe que tinha falado que me perseguia e por isso saí do trabalho.

Cássia: Uma pessoa de 24 anos não escreve papai e mamãe, tá?

Cátia: A sério…

Alex: Só eu achei que esse nome Santomé é bem revelador?

Laís: Não captei.

Alex: São Tomé aquele que só acreditava vendo.

Laís: Sim.

Alex: Será que o nome era uma indicação da personalidade dele dada pelo autor? Alguém descrente com a vida.

Laís: Hummm, é possível.

Alex: E o milagre do amor estava acontecendo diante de seus olhos.

Cássia: Até agora, nós não tratamos a história dos dois como uma história de amor, perceberam?

Laís: Tenho dificuldade para tratar essa história assim. Não estou invalidando nada do que aconteceu, mas não consigo chamar de história de amor.

Cátia: Para mim, foi.

Alex: A visão que ele tinha sobre o relacionamento era mais próxima do amor do que da paixão. A dela eu não sei porque o diário era dele. Porém, eu sempre encarei como uma história de amor.

Laís: Não sei como chamaria.

Cássia: Para mim, também foi.

Nina: Para mim também foi.

Alex: Eu chamaria de amor quando mais próximo da vida real… rs. O amor comum dos livros é bem diferente desse por isso o estranhamento… rs.

Laís: Concordo com a sua concepção do amor, Alex.

Cássia: Não sei, não sei… Definir amor é como engaiolar pássaro.

Cátia: Concordo, Cássia.

Laís: Talvez eu esteja relutante porque a Avelaneda foi uma personagem estranha. Em outras palavras, não engoli.

Alex: Acho que há um equívoco aqui. É plenamente possível definir o amor, mas a definição deve ser pessoal e válida somente para quem a proferiu.

Cássia: E o que isso difere do que acabei de falar, Alex? Foi a mesma coisa.

Alex: Eu posso definir o que é amor, só não posso impor que os outros sigam a minha definição.

Cássia: Cada pessoa enxerga e sente o amor do seu jeito, porque a definição do amor passa pelo que você sente. Aí a gente fica aqui encaixando uma coisa na outra quando, na verdade, depende sempre de quem diz.

Alex: Desculpe, mas tinha entendido que tinha dito que não se pode definir.

Cássia: Acho que a relação dos dois foi amor porque aquilo transformou os dois… Eles cresceram com aquilo. O Santomé passou a ver a vida com outros olhos, ele não era mais um morto-vivo. Ele ainda tinha uma vida pela frente, possivelmente ao lado dela.

Alex: Era sim, senão fica sem sentido o título do livro. Depois do que aconteceu ele tem que voltar a ser um morto-vivo senão perde o sentido.

Laís: E, ao que tudo indicava, voltou mesmo.

Cássia: Infelizmente, voltou.

Alex: Bem, mas perder as duas mulheres que ele gostou assim não podemos culpá-lo.

Laís: Foi triste quando ele disse que não escreveria mais no diário.  Ok, o livro tinha de terminar, mas foi triste.

Cássia: É, foi bem triste… e a cena dela dando tchau para ele? A última vez que eles se viram.

Laís: Claro que não podemos. Não me lembro.

Alex: Ele escrever no diário depois da morte dela foi meio inverossímil.

Nina: Quando ele a deixou em casa, né? Nossa, foi triste.

Cássia: Isso, quando a deixou em casa, ela deu um tchauzinho fofo.

Nina: Hehehe, inverossímil?

Cássia: Não foi inverossímil não.

Laís: Também não achei.

Alex: Ora, se ele não tinha mais condições ou interesse de escrever o diário porque aquelas linhas finais… por que não ter parado… aquilo foi um desfecho para os leitores .

Nina: Não é bem assim não.

Laís: Ele tinha de terminar aquilo; não o livro, mas tentar terminar aquele ciclo.

Cássia: Porque tinha mais a ver ele parar no dia da aposentadoria, hehehe.

Nina: Kkkkkkkkk.

Cássia: E diário funciona de outro jeito. Há 12 volumes aqui em casa com 20 anos da minha vida. Te garanto que rola de outro jeito, hehehe.

Alex: Se eu perdi o interesse pela vida com o que aconteceu eu jogaria tudo para o alto e nunca mais escreveria no diário se assim eu tivesse decidido.

Nina: Pois é, eu também tenho e não funciona assim.

Cássia: É diferente. Quando algo dói demais, não tem palavras que exprimam isso. A gente se cala.

Laís: Sim!

Cássia: E chora, hahahaha.

Nina: E vai ter um dia em que você precisa exprimir de uma forma e outro dia de outra.

Laís: Eu já não jogaria fora, porque o que foi escrito fica como memorial.

Nina: O diário pode fazer parte disso.

Cássia: Jogar fora o quê? Ah, jogar fora jamais. É tão legal ler depois.

Alex: Ou não tem palavra para exprimir ou tem. Não dá para ficar sem exprimir e depois sentir vontade de escrever… rs.

Laís: Claro que dá.

Cássia: Claro que dá, imagina. Alex, vamos te dar um diário, aí você aprende como funciona.

Alex: Eu não disse jogar fora, rs… Eu disse jogar tudo para o alto… deixar de fazer.

Laís: Pode não dar em um momento, mas chega o tempo em que a dor diminui, pelo menos um pouco, que você consegue se mexer.

Cássia: Exatamente, Laís.

Alex: Acho que isso é o primeiro princípio da lógica: uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo… rs.

Laís: Ao mesmo tempo não mesmo.

Cássia: Alex, não me faça eu te mandar para aquele lugar, hehehe.

Laís: Mas existe o tempo do não e o tempo do sim.

Alex: Ou você diz: existe palavra para descrever, mas não a encontrei ainda ou não existe palavra e, daí, nunca poderá existir.

Cássia: Ai, caracoles. Não existe NA HORA, existe DEPOIS, e mais ainda DEPOIS DO DEPOIS. Até chegar o dia em que você conta e, em vez de chorar, você ri. Sacou o processo?

Laís: Ou, se não ri, pelo menos não sente aquela dor insuportável.

Cássia: Um dia para de doer. Às vezes demora uma vida, mas para.

Laís: Seria inverossímil se num dia ela morresse e no outro ele escrevesse no diário; mas essa pausa foi bem apropriada.

Alex: Hum, eu sinto muito, mas acho que não me daria bem com um diário… não sou assim. Não tenho uma vida para ficar me lamentando e tentando descobrir uma palavra para descrever algo… Eu vivencio e depois parto para outra vivência… rs.

Cássia: Também achei apropriada. Ai, Alex José, na boa. Vá ver a beleza das palavras. Vá ler Jane Austen.

Laís: Você não precisa se lamentar no diário, ué.

Cássia: Vá lá, flor.

Alex: Eu vejo sim a beleza nas palavras… rs. Todos vemos senão não estaríamos aqui discutindo apaixonadamente sobre um livro… rs.

Cássia: Tô vendo que vê.

Nina: Queridos, eu preciso ir!!!

Cátia: Eu também vou.

Cássia: Beijos!

Laís: Beijo, meninas!

Alex: Tenham um ótimo resto de domingo

[Nina e Cátia saem da conversa.]

Cássia: Diário nada tem a ver com lamentação.

Laís: No caso dele, teve, mas isso foi no caso dele.

Cássia: Mas a vida dele era uma lamentação.

Alex: Eu não disse que diário tem a ver com lamentação, desculpe se pareceu isso. Escrever é complicado para se expressar plenamente… rs. Eu estava pensando na situação do protagonista quando estava argumentando e disse que não conseguiria ser como ele.

Cássia: Ele era sozinho, não tinha com quem conversar. Não há nada na vida para se expressar plenamente.

Alex: Ãn? Sério? Eu prefiro acreditar que sim… rs.

Cássia: Acredite no que quiser, hehehe, mas não existe.

Laís: Cada um tem um jeito de olhar as coisas; por isso, cada um tem sua forma de expressar o que quer que seja. Ele se lamentava, coitado. Ele e muita gente.

Alex: Mas a maravilha da vida é que para eu estar certo você não precisa estar errada… rs.

Cássia: Vamos fechar o livro?

Alex: Claro.

Laís: Eu acho que dá pra gente se expressar plenamente, sim; só que existem formas e formas de se fazer isso, você pode encontrar a sua ou não. Claro.

Cássia: Pelo menos, eu ainda acho que não. No fim das contas, essa trégua que ele teve, foi amor ou não?

Laís: Não sei.

Alex: Não tenho certeza, mas fiquei com a impressão que sim.

Cássia: Eu acho que sim. Do jeito contido do Santomé, aos poucos, e mais e mais da Avellaneda. Mas acho que foi… E uma coisa linda do livro que nós não comentamos é o quanto um grande amor muda a vida de uma pessoa.

Laís: Sem dúvida.

Alex: Nem acho que foi tão contido, porque quem tem dúvidas não fica se preocupando com o futuro do relacionamento como ele que pensava 10 anos à frente. Acho que ele foi um pouco reticente.

Cássia: Eu acho que foi contido, ele não demonstrou tudo aquilo que gostaria.

Laís: Ele foi inseguro.

Cássia: Isso que quis dizer, dá para entender a insegurança dele.

Alex: Mas a grande pergunta é: houve amor? Para isso não precisamos saber quanto ele demonstrou efetivamente, mas quanto ele sentia. Nesse ponto, acho que ele tinha um sentimento muito forte.

Cássia: Por isso que eu disse que, sim, acredito que ele a amou, do jeito contido dele.

Alex: Bem, finalizando: é um ótimo livro. Gostei bastante.

Cássia: Também gostei.

Alex: E da escrita também.

Cássia: Também.

Laís: Eu também gostei, apesar das coisas que não me convenceram, que já citei. Mas foi excelente.

Cássia: A leitura flui…

Alex: Qual é o próximo mesmo?

Cássia: Mãos de cavalo.

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